sexta-feira, 20 de junho de 2008

O estorvo da lucidez


Era no mínimo curiosa a sua singularidade logo percebida por qualquer um que adentrasse o recinto. Por mais que se vestisse aleatoriamente como os demais presentes, transbordava a eloqüência do seu silêncio. Era invisível e tão presente...


Pouco falou durante a noite.


Dedicou-se a observar. E a ser observado, é claro. Tentava não ser notado, entretanto, quanto mais se escondia, mais concreta transformava-se sua presença.


Como naquele filme de Buñuel, sem razão alguma ficamos onde havíamos nos reunido. As luzes foram apagadas e todos supostamente ali tomaram um breve descanso.


Era claro que jamais conseguiria adentrar o reino de Morfeu naquela posição, no entanto, o fez. O estado vegetativo era abruptamente interrompido por espasmos quase esquizofrêmicos.


Enquanto todos ainda oscilavam entre estágios diferentes do sono, levantou-se e seguiu caminho enfrentando o labirinto formado por corpos e móveis.


Sentou-se.


Pôs suas armas sobre a mesa e começou a destilar seu veneno.


As idéias lhe haviam incomodado durante a noite. Tinha a necessidade de escrever e se livrar de tudo que lhe roubava o pensamento.


Preencheu intermináveis páginas e comprovou sua teoria lançada na noite passada que até então eu duvidava.


"Escritores nada têm de generosos. São seres extremamente egoístas que fazem uso da palavra para exorcizar a alma. Generosos, sois vós, leitores que insistem em dar sentido ao escárnio de mim mesmo."
Romina Cácia

2 comentários:

Cla disse...

Gostei.Escritor é bicho esquisito ne? hehe
=*

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom